Neste 'post', que podia muito bem ser o "nota jornalística... dia 2", vou falar-vos ao coração partilhando o momento de compra da sucessora da Esmaltina. Sendo esta primeira bicicleta, a rainha, a sucessora será Esmaltina II - a princesa!
Como toda a família real, esta é também cheia de histórias e contos. O que vos conto a seguir é o momento em que Esmaltina II é adoptada por mim.
«Estava frio e a chuva gelava-me a epiderme, ao mesmo tempo que o vento o fazia com os ossos. Abeirei-me da loja de bicicletas onde já havia estado nem 24h antes, espreitei através da montra e parecia como de costume, vazia. Verifiquei na porta os horários escritos à mão no verso de talões do supermercado, e sem perceber 'corno' do que lá estava escrito, levei a mão ao puxador da porta e não fui capaz de puxar, não sem antes olhar em volta e perceber que estava sozinho, puxei então com relativa intensidade e fui aumentando a força que imprimia àquela acção. Antes mesmo que o cansaço me derrotasse, parei um breve instante e decidi empurrar: a porta abriu-se à minha frente; e um estridente tilintar anunciou de forma pouco discreta a minha presença ali e eu entrei.
Ao ultrapassar a ombreira da porta senti um calafrio, não havia ar condicionado, era naqueles dias uma raridade. A loja estendia-se por cerca de 20 metros num corredor ladeado por bicicletas de todos os tamanhos perfiladas como se fossem escuteiros de várias idades, o corredor ia dar a um espaço mais amplo com um biombo verde, não se via vivalma, porém ouvia-se qualquer coisa.
Dei 5 passos a medo em direcção ao biombo e a porta fechou-se nas minhas costas reproduzindo o som que antes me anunciara, naquele instante olhei para trás por impulso e quando voltei de novo a face para a frente, ouvi um conjunto de vocábulos indecifráveis... e lá estava ele, o corpulento e provável irmão de Steven Seagal. Sempre tive por certo o grau próximo de parentesco entre o dono da loja e a estrela sexagenária de Hollywood.
Lembrei-me então de que no dia anterior eu havia lá estado por 5 minutos, tendo saído, fulminado pelo olhar de Mr. Seagal, mas ainda assim, com a mesma quantidade de riqueza e integridade física com que havia entrado. Soube naquele momento que isso não se iria repetir. Apontei com voz e mão trémulas para a 1ª bicicleta que a minha mente conseguiu individualizar naquele conturbado instante, tive a sensação que Mr. Seagal olhava para outra dimensão, todavia abeirou-se da bicicleta que eu apontara e elevando-a à altura dos ombros entregou-ma em mãos.
Ao sentir o toque de Esmaltina II soube que não havia volta a dar e soube que seria aquela, também é verdade que de outra forma a minha integridade física estaria amplamente ameaçada. Após a troca prosaica do vil metal pela Esmaltina II, montei-me no seu Selim preso pelas pontas de tão subido que estava e despedimo-nos ambos daquela masmorra em direcção à nossa casa provisória. Chegados a casa foi tempo de um momento dolorosamente necessário: prendi-a pelo tronco a uma cerca onde - estou certo - ela me esperará noite fora.»
Fim (por hoje)
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VOLTEM SEMPRE
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